EXCLUSÃO “DECRETADA” PELO MPLA REVOLTA NGOLA KABANGU

O antigo presidente da Frente Nacional de Libertação de Angola – FNLA, Ngola Kabangu, na reforma, salienta que não entendeu e continua a não entender, até ao momento, a atitude tomada pela bancada parlamentar do MPLA, de ter votado a favor a proposta de Lei de criação da medalha de honra comemorativa dos 50 anos de Independência Nacional que excluiu os nacionalistas Álvaro Holden Roberto e Jonas Malheiro Savimbi. Instou, por outro lado, a ministra da Saúde, Sílvia Paula Valentim Lutucuta, a corrigir o tiro no combate ao surto da cólera que assola parte do território nacional, desde 7 de Janeiro de 2025 e que já ceifou mais de 200 vidas humanas.

Por Berlantino Dário

Ngola Kabangu lamentou igualmente o facto de ter sido um dos libertadores de Angola, o homem que participou das negociações dos acordos de Alvor e que esteve ao lado daqueles que assinaram o documento, mas que o seu nome não consta da lista de nacionalistas a serem condecorados com a medalha de honra do jubileu dos 50 anos da dipanda, aos patriotas que lutaram para a libertação de Angola do jugo colonial.

“Eu não compreendi e continuo a não compreender a atitude do partido irmão que é o MPLA, porque é o grupo parlamentar que votou, é o grupo parlamentar do MPLA que recebe instruções directas dos seus órgãos centrais, dos órgãos de diligências.”

“Eu, como um dos libertadores de Angola, homem que participou das negociações de Alvor, homem que esteve ao lado daqueles que assinaram o acordo de alvor, não compreendo, não compreendo! Estou, não só triste, mas revoltado! E espero que as mais altas instâncias, dirigentes do MPLA corrijam aquilo que se passou na Assembleia Nacional”, apelou Kabangu.

Para o nacionalista, “Holden Roberto é indiscutivelmente o condutor da luta de Libertação Nacional. Outros, também, participaram como a UNITA, mas o condutor?! Foi, indiscutivelmente, Álvaro Holden Roberto”, declarou.

Entretanto, Ngola Kabangu esclareceu, por outro lado, que quem assina o acordo de cessar-fogo das hostilidades para determinar o programa que a guerra tinha terminado em Angola – “Não foi nem o MPLA, nem UNITA, foi Holden Roberto, em 14 de Outubro de 1974, a bordo do barco de Zacarias Gonçalves Augusto, uma alta delegação portuguesa chefiada pelo saudoso general Fontes Pereira de Melo que, naquela altura e naquela época, era o chefe da Casa Militar do Presidente da época também o general António Spínola. Foi Holden Roberto quem encerrou a luta, portanto, está tudo dito”.

Durante a entrevista concedida no passado dia 28 de Fevereiro ao Folha 8, o então presidente que conduziu por dois mandatos os destinos da FNLA de 2007 a 2011 e 2011 a 2015 eleito no Congresso de 2007, após a morte de Álvaro Holden Roberto, em 2 de Agosto de 2007, disse que o que se passou na Assembleia Nacional aquando da aprovação da referida Lei, “é vaidade”, porque, segundo justifica o político reformado -, “se houve participação honrosa de todos os movimentos de libertação indiscutivelmente da luta, o processo pleno no interior foi conduzido pela FNLA, lançado pela UPA e continuando pela FNLA. Portanto, o Holden conduziu esse processo, e seus companheiros. Se chegou o momento de o país, Angola, reconhecer e homenagear os seus filhos, eles não podem ser esquecidos nem excluídos”, alertou.

Por seu turno, durante a sua alocução, Ngola Kabangu instou a ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta, a corrigir aquilo a que considera “tiro”, no combate ao surto da cólera que não está a ser travado de maneira organizada e eficiente.

“Mamã Lutucuta, corrija o tiro. Temos de falar! O Angolano deve tirar o adesivo da boca! Não disparatar, não insultar, mas dar a sua opinião. Então cólera aqui, cólera ali, onde é que vamos parar? E por que é que há cólera? Qual é a causa principal? É o saneamento básico! É o saneamento básico. Mais limpeza, o cidadão tem que reclamar.”

Nascido em Luanda, a 14 de Fevereiro de 1943, Ngola Kabangu é actualmente administrador não executivo da ENDIAMA E. P. é engenheiro, político e escritor. De 2007 a 2011, Presidente da FNLA, eleito no Congresso de 2007, após a morte de Álvaro Holden Roberto, foi, igualmente, de 2008 a 2012, deputado à Assembleia Nacional, eleito pela lista da FNLA. De 2011 a 2015, reeleito Presidente da FNLA.

Recorda-se, no entanto, que a proposta de Lei que cria a medalha comemorativa dos 50 anos de Independência Nacional foi aprovada na globalidade, no 20 de Fevereiro, pela Assembleia Nacional com 104 votos favoráveis do MPLA e do Partido Humanista de Bela Malaquias, 71 contra da UNITA e uma abstenção do PRS.

O documento, de iniciativa presidencial, contempla três classes de medalhas e vai condecorar apenas António Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, primeiro e segundo Presidentes de Angola, em memória, e exclui Álvaro Holden Robert, fundador e então presidente da FNLA e Jonas Malheiro Savimbi, igualmente fundador e então presidente da UNITA, ambos em memória.

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